Xena passou o resto das marcas de vela daquela
noite rolando pela cama sem conseguir dormir em absoluto. Ainda longe do
tempo dos carros de Apolo trazer os primeiros raios de sol, a imperatriz
salta da cama completamente nua e desliza até seu armário de roupas a
procura de sua veste de guerreira. Em pouco já estava paramentada com suas
vestes de couro e sua armadura que protegia seus ombros e tórax,
terminava de enfiar suas botas e jogou nas costas a velha bainha surrada
e colocou cuidadosamente sua espada, a cintura prendia aquele objeto afiado, de
estranha forma arredondada. A passos largos deixa seus aposentos passando
pelos guardas das portas, que se encontravam sonolentos. Ao longo de toda noite
havia pensando que precisaria saber o tamanho das forças inimigas que se
formava ao norte e se o que Mezentius lhe disse pouco antes de ser morto
por ela de fato era verdade.
Seguiu rápido e sorrateiramente pelos
corredores do palácio em direção a cozinha. Xena tinha uma fome quase tão
grande quanto ela. Seu plano era se alimentar com algo, pegar algumas
poucas provisões para o dia e partir da fortaleza saindo por sua passagem
secreta. Não iria alarmar ninguém sobre sua ausência. A imperatriz não era
conhecedora da rotina dos servos do palácio, que se punham a trabalhar
muito antes do nascer do sol, mas descobrira isso quando entrou na
cozinha e deu de cara com Mira, que se assustou com aquela presença rara
naquele ambiente.
- Senhora? A essa hora nessas
dependências?
- Bom dia pra você, velha rabugenta, preciso
comer. Tenho uma fome de dois gigantes e preciso de algumas provisões - falando
quase em sussurro confessa a velha mulher - Vou sair da fortaleza sem que
imaginem que eu o farei, irei ao norte ver as tropas que se levantam contra meu
reino e não preciso que os espiões que estão nesse castelo saibam,
portanto se não queres a língua cortada é melhor que se ocupe de dizer a quem
quer que seja que estarei em meus aposentos tratando de questões de impostos do
reino e não quero ser interrompida por nada.
- Mas menina, é muito perigoso sair
sozinha indo de encontra a um exercito.
- Cale a boca, velha, e arrume logo o que
preciso e me dê algo pra comer.
Mira balança a cabeça em negativa
contrariada, mas se põe a fazer as vontades de sua senhora.
Xena comia um pão de nozes e tomava uma
infusão quente que contrastava muito bem com o frio que fazia fora
daquelas paredes. Estava tão distraída em seu plano que mal se dera conta da
figura que a observava do outro lado da cozinha, onde preparava uma massa
e cortava algumas frutas.
Ao se dar conta que ali estava aquela alma
fantasmagórica, Xena ergue sua negra sobrancelha e fecha a expressão levantando
e indo de encontro a escrava que tratou se de encolher quando viu a
mulher que hoje lhe parecia muito maior que antes.
Xena pergunta a escrava se ela ouvira tudo que
havia conversado com Mira e com os olhos fixos ao chão a escrava disse
num fio de voz que sim.
- Garota, tem sorte de não a ter matado
na ultima noite, não me faça arrepender de tal feito. - dizia isso encarando
firmemente aqueles olhos verdes brilhantes e se deu conta de que apertava
muito o braço da escrava.
Virou-se em direção da velha escrava, tomou
uma pequena bolsa de sua mão e partiu em direção a seus aposentos
apressadamente.
Sem se refazer da situação de medo que
passara, Gabrielle pergunta àquela figura velha a sua frente - Ela sempre se
põe assim? Amedrontando todos que a cercam?
Mira dá uma risada e responde com tristeza na
voz - É tudo que ela conheceu da vida.
Gabrielle se perde nas suas tarefas pensando
no medo que ela sentia daquela estranha figura fria e impiedosa, no que a vida
agora a reservaria sob aquele teto e pára relembrando como tivera seu braço apertado
por aquela mulher. A estranha sensação que deu choques até em sua alma a sentir
a mão sobre si. Tudo aquilo seria medo? Gabrielle volta a si quando sente a
faca cortar a ponta de um dedo.
Já fora das muralhas do castelo, Xena
cavalgava rumo ao norte, já passava muito do meio do dia quando ela parou para
dar descanso ao cavalo. Queria logo chegar ao norte e apurar o exército que
teria que enfrentar nos portões de Corinto em poucas luas. Algumas marcas de
velas após estava no alto de uma montanha observando o acampamento de Batios e
centenas de homens treinando movimentos e simulando lutas.
Pode perceber que os homens eram
organizados e tinham um contingente grande de armas e flechas, sem dúvida teria
problemas em detê-los. Pôs Argo a todo galope rumo à fortaleza desejando somente
o conforto de seus aposentos. Queria chegar o quanto antes e convocar a corte,
havia um traidor em seu meio que se dedicava em abastecer Batios
com informações do castelo e isso não poderia ficar impune. A situação
preocupava Xena, Batios havia lutado ao seu lado antes de conquistar
Corinto, lutaram juntos pelas terras da Trácia e sabia o bom combatente que
era. Nunca fora um grande inimigo, em outros tempos frequentou os lençóis da
guerreira por quem nutriu um sentimento nunca correspondido, queria ele que
Xena abandonasse a ambição pelo poder e todas as infindáveis batalhas
para segui-lo em uma vida longe dos campos de batalha e fora traído pela
guerreira que para se livrar do homem o entregou aos seus inimigos
de Trácia em uma arquitetada retirada abandonando aquela terra. Ao que
tudo se desenhava Batios encontrara um aliado para destruir A
imperatriz.
O caminho de volta era longo e mesmo o fazendo
a toda pressa só entraria pelos portões de Corinto já madrugada adentro.
Atrás dos muros do castelo tudo era agitação,
a corte ao longo do dia solicitava a presença da imperatriz nos julgamentos e
não aceitavam que simplesmente a tão poderosa mulher não estava disposta a
tratar os assuntos de seu governo.
Na agitação do dia Mira, a única que
podia entrar nos aposentos da conquistadora, passava por apuros para justificar
o sumiço e nem mesmo a guarda real sabia o que de fato acontecia. Enquanto
Gabrielle se ocupava de seu árduo trabalho levando cargas pesadas na cozinha de
um lado ao outro, se viu diante de uma cena inusitada. Entrava na cozinha uma
figura ruiva, de cabelos ondulados, roupas surradas de escrava, mas com uma
postura que não combinava com um servo normal. A atrevida mulher se
dirige a Mira:
- Sua velha, você sabe onde ela está e fica
pagando de morta, há dois dias ela não me convoca a seus aposentos, penso ter
direito de saber o que se passa naquele quarto.
Mira a ignora e entra nos seus afazeres
já pensando que tinha problemas demais para se enredar com o atrevimento
daquela mulher.
Gabrielle que a tudo presenciou com um ar
inocente pergunta – Mira, quem era tão estranha mulher que a pouco esteve em
sua presença?
Mira encara a menina loira descabelada a sua
frente e diz essa é Melina, que pensa ter privilégios só porque se deita com a
Senhora Conquistadora. Tomada por um torpor Gabrielle arregala os olhos sem
entender muito bem o que ouvira e lentamente forma uma frase quase que para si
mesma...
- Não é uma lenda, a conquistadora se deita
com mulheres... - O tão ruidoso ambiente ao menos aos ouvidos de
Gabrielle fora tomado por silêncio. Embora a frase de Gabrielle tivesse
sido um sussurro, Mira havia escutado e agora lhe respondia:
- Menina, a conquistadora sempre teve o mundo
aos pés, ninguém nunca tocou o seu coração, essa que julga ter
privilégios é uma escrava como eu e você, a diferença é que serve a
senhora conquistadora na cama, e assim como ela há também alguns rapazes que
tem o privilégio. - encerrando a frase com um largo sorriso.
A fortaleza era tomada agora por uma escuridão,
e os servos se recolhendo, soldados no quartel e na cozinha. Somente Mira fazia
um chá e observa como Gabrielle não tinha se recolhido com os demais.
- Está na hora de se recolher, menina, não há
nada mais a fazer e precisa descansar, você está acabada e antes do nascer do
sol tudo recomeçará, isso nunca para.
Gabrielle erguendo os olhos diz olhando
a velha escrava - Posso ficar mais um pouco? Minha cela e tão fria, que chega a
me doer os ossos, aqui pelo menos tem fogo.
Com um olhar preocupado Mira começa a se
encaminhar para a direção de seus aposentos que ficava no andar inferior
do castelo, não era um quarto luxuoso, mas estava longe de ser uma cela comum
de um escravo como Gabrielle. Havia conquistado isso ao ser nomeada
escrava de cuidados pessoais da imperatriz.
- Bem menina, fique aí, mas não arrume
problemas e nem tente fugir, sabe o destino daqueles que o tentam, não sabe? - Dizendo
isso se retirou.
Faltava pouco agora para Xena alcançar os
portões de Corinto, quando de repente sua égua refuga diante de algo lançando
Xena violentamente contra uma pedra do caminho. Nesse momento bradando todo
tipo de palavrões, Xena ia se erguendo e constata o motivo do
comportamento de sua égua, a sua frente se materializava o Deus da Guerra.
- Ares, não tinha uma hora mais oportuna para
vim me chatear com esse cheiro de cachorro sarnento?
- Minha cara Xena, você está perdendo
suas habilidades ou o que? Caiu do cavalo como uma fruta madura. Cuidado,
avisei sempre a você para não brincar com o coração dos homens como
brincas com o meu. Eu lhe avisei.
Gargalhando, a presença que ali estava
desaparece furtivamente assim como apareceu.
Levantando-se com um ódio e dor, Xena
percebe que seu ombro sofrera um corte que com o vento frio que
soprava ardia por demais. Montou Argo e seguiu seu caminho maldizendo
tudo pelo ocorrido. Chegando aos portões de Corinto não se ocupou de
entrar pela passagem secreta pela qual havia saído. Os portões se abriram para
que passasse. Deixando Argo no estábulo, segue pelo pátio em passos largos,
entrando pela cozinha e quase matando de susto o pequeno ser que contemplava o
fogo.
Diante daquilo brada - Que Hades faz aqui a
essa hora?
- Senhora, é que, bem, minha cela é muito fria
e o fogo espanta um pouco do frio.
Ao ouvir aquilo por um lampejo passa aos olhos
azuis a lembrança da madrugada dos gemidos de quem dormia no chão em um
frio cortante.
Xena começara a andar pelo corredor em direção
aos seus aposentos quando Gabrielle emite um som de susto ao ver o sangue que
escorria nos braços da guerreia. Essa para e encara ferozmente a jovem loira - Venha
comigo, prove que pode ser útil na vida.
Sem tempo de pensar em uma resposta, Gabrielle
quase corria atrás da alta figura que ia a sua frente, entrou em silêncio
aos aposentos da conquistadora e ficou fascinada com a grandeza e
suntuosidade das habitações que se abriram a sua frente. Xena ordena que
ela prepare um banho enquanto olha com cara feia o ferimento que tinha, e
bufando considera por um momento o que Ares lhe dissera - “Está perdendo suas
habilidades, guerreira imbecil”.
Afastando esse pensamento e se despindo Xena
se encaminha a sala de banho onde adentra e vê a pequena escrava correr de um
lado ao outro enchendo a tina com água agradavelmente morna. Quando
Gabrielle se vira nota a presença da conquistadora seminua a sua frente e vê se
rosto ardendo, o que causa em xena um leve sorriso.
- Ajude-me a tirar o resto.
Gabrielle se aproxima e fazia o que lhe havia
sido ordenado e os seus dedos tocam o abdômen da mulher a sua frente,
projetando em si um estranho choque. Por algum motivo aquele pequeno toque
mexeu bem no meio das pernas da guerreira. Gabrielle não sabia o que fazer
diante daquela situação e olhava somente o chão. Xena entra na água e se deixa
levar pela agradável sensação.
- Esfrega minhas costas, tire de mim toda essa
poeira, e limpe meu ferimento. E se o bem fizeres talvez eu comece a
reconsiderar o que me disse aquela escrava velha e tola.
Gabrielle fez como ordenado e em silêncio.
Xena sabia que era uma mulher perfeitamente
desenhada e lidava muito bem com seu corpo para sentir vergonha de qualquer
coisa que fosse. Levantou-se rapidamente da água cruzando a sala nua na
frente de Gabrielle que não pode deter o olhar.
- Vista-me, escrava.
Quando colocava uma túnica longa, de um tecido
sedoso sobre os ombros da conquistadora com cuidado para não atingir o arranhão
que fez Xena sangrar, percebe-se a porta do recinto bater com força,
ambas olham com susto a figura plantada ali.
O olhar gelado de Xena encontra com
desprezo a figura de Melina parada a sua porta.
- Que diabos faz aqui?
- Vim fazer o de sempre Xena - disse se
aproximando enquanto Gabrielle atava a túnica da conquistadora.
Melina estava bem perto da conquistadora
e toca os lábios da alta mulher com volúpia, empurrando Gabrielle que cai de
costas. Estranhando a si mesma Xena empurra sua escrava corporal contra a cama
e estende a mão à pequena escrava que agora estava ao chão e percebe o quanto
patético era aquilo.
“A conquistadora agora se compadece de
escravas”? - balançando a cabeça e desfazendo o pensamento a imperatriz
brada:
- Suma daqui. - empurrando a pequena
Gabrielle que mal conseguia andar, bate fortemente a porta quando essa
sai do seu quarto.
Xena não reconhecia suas ações. Porque levar
aquela escrava a tão íntimo ambiente? E pior, porque se importar em ajudá-la a
se levantar? Ninguém se importa com escravos e não seria ela a primeira.
O monstro interior da
conquistadora agora reinava. Ela volta em direção a sua cama onde ainda
permanecia Melina.
- Então Melina, tivestes o atrevimento de
entrar aqui sem ser chamada.
- Xena, eu pensei que...
Sem tempo de dizer mais nada, Xena joga Melina
sobre sua cama, rasgando as suas vestes, e abusa daquele corpo que estava a sua
disposição. Causava dor àquela mulher, penetrando com toda força, mordendo,
infligindo dor.
Do corredor do castelo é possível ouvir o
ruído que vinha daquele quarto. Xena deixava que o monstro que a dominava nos
campos tomasse as rédeas de sua luxúria na cama. Violentou sua serva corporal
de todas as maneiras que era capaz de pensar, nunca se permitia ser
tocada, e estranhamente quando enxotou Melina porta afora Xena conseguia
estar ainda mais furiosa e inquieta. Ter abusado daquela que há tempos
satisfazia seus desejos na cama não tinha aplacado em nada a necessidade
que sentia. De repente Xena era uma estranha para si mesma.
Sem conseguir pregar os olhos, Xena arranca do
corpo aquela túnica que permaneceu sobre sua pele toda a noite e um flash de
memória traz a seus lábios um terno sorriso ao se lembrar da menina que tão
delicadamente havia colocado a veste nela.
Sob o corpo agora a imperatriz tinha uma
surrada veste de couro. Se encaminhando rapidamente a um estreito túnel no fim
de seus aposentos, a imperatriz chega a um espaço úmido e escuro que agora se
iluminava com uma minúscula tocha que Xena acendeu. De espada em punho, ali na
solidão de seu reinado, Xena traçava golpes violentos contra o ar, saltos
mortais sob a própria sombra, e retornava ao chão com elegância e equilíbrio
invejável. Por mais de três marcas de velas os movimentos se repetiam até a
completa exaustão. Nada devolveu a paz à Guerreira naquela noite. Queria se
entregar ao sono, mas não conseguia, quis relaxar seu corpo com o sempre
bem vindo prazer sexual em suas brutas atividades, mas nessa noite Melina não
aplacara em nada a necessidade da conquistadora. Seu corpo estava cansado, o
meio de suas pernas doía com a tensão não dissipada.
- Pelas bolas de Ares, terá algo pior que
isso? - Nesse pensamento finalmente a meia marca de vela do raiar do sol os
cálidos olhos azuis se fecham em um sono inquieto.
Não muito longe dali, pátio afora, num frio
congelante, estirada estava uma menina que voltou da presença da
conquistadora sentindo tanto medo quanto o frio que fazia doer cada músculo
daquele corpo, que dava os primeiros sinais de não suportar aquela condição por
muito mais tempo... O frio cortava a alma, mas seu corpo estava quente, ardia
em febre...