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DAS SOMBRAS DA MALDADE AO FOGO DO AMOR - Capítulos 17, 18 e 19


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Capítulo 17. Sim, O Amor Suporta

Xena estava apavorada ante a cena que se desenhou diante de seus olhos. Gabrielle desfalecera segurando sua mão, a mulher conhecida por sua frieza estava provando o dissabor do medo, por um instante teve medo de perdê-la para sempre. Encontrou coragem de reagir diante do que estava acontecendo e cuidadosamente se pôs a erguer o corpo tão pequeno e tão frágil. Agora longe de tanto ódio ela reconhecia isso. Caminhou a passos lentos levando a pequena em direção à cama, parecia temer que o balanço provocado pelo movimento causasse mais dor. Xena colocou Gabrielle em sua cama como um recém-nascido, as lágrimas teimavam em descer de seus olhos. Depositando a pequena na cama, a alta mulher vai a largos passos rumo ao armário onde tinha dispostas suas vestes, vestiu-se com uma túnica que tocava seus pés, era de tecido negro feito a noite. Enlaçou a veste na cintura por uma fita prendendo-a. Passou novamente frente à cama lançando um olhar de ternura e desespero, deixou o ambiente rumo à saída fazendo com que os soldados de guarda sobressaltassem ao barulho. Xena sequer deu-se conta da reverência feita a ela, cruzou os corredores que a levavam à cozinha com um piscar de olhos, e dessa vez a alma a se assustar com a presença da conquistadora foi Mira.
- Pelos Deuses, Xena, que mania de andar feito gato, já não estou na idade de me assustar.
- Eu não sei por que Hades todo mundo me vê e parece estar vendo um fantasma.
- Talvez seja pelos seus tão  delicados modos. - Disse a escrava com tom risonho encontrando em Xena um ar de reprovação.
- Ouça... Não me faça perguntas, leve aos meus aposentos tudo que precisa para os cuidados de alguém.
A escrava ouviu atentamente e permaneceu calada vendo a tristeza estampada no rosto  da guerreira.
- Vou providenciar tudo, menina. - Mira imagina o que havia acontecido, conhecia como ninguém Xena, e era talvez a única que  se atrevia a lhe dizer algumas verdades.
Xena, com um meneio de cabeça, confirma o que ouve da velha escrava. A conquistadora parecia divagar sobre a realidade e ao alcançar a porta de acesso ao pátio vislumbrou na escuridão seu general atado ao um tronco, nu, no frio da madrugada. Ao  vê-lo, a lembrança daquele homem tocando Gabrielle lhe volta com força, a guerreira sente a dor cortar-lhe a alma ao se recobrar que aquele homem que estivera com ela em outras ocasiões tocou sua menina, “minha Gabrielle”. Foi inevitável para ela pensar que se não tivesse chegado ele teria a tomado e ela conhecia muito bem os seus modos, aquele pensamento lhe virou o estômago. Os devaneios de Xena foram interrompidos quando esta notou que Mira estava pronta e já se dirigia a seus aposentos, a passos largos Xena a seguia em silêncio, nunca lhe ocorreu que aquele corredor fosse tão longo. Entraram pelo recinto ambas em silêncio, este foi quebrado pela exclamação vinda da velha figura:
- Pelos Deuses, o que você fez Xena? - Disse a escrava se aproximando da cama.
Xena não conseguia mais conter a angústia, e permite que mais uma vez as lágrimas tomem seus olhos. A morena andava lentamente de um lado ao outro enquanto a velha escrava mergulha as compressas na bacia de água que havia trazido, passou suavemente o pano  no canto dos lábios de Gabrielle de onde um filete de sangue escorria, fazia com delicadeza a limpeza para não causar mais dor na pequena escrava, e repetidamente cuidou de cada parte daquele rosto tão juvenil, tratou também dos braços arranhados. Xena sentia as dores que pertenciam a Gabrielle a cada movimento de Mira, aproximou-se e pôs a cuidar de uma das mãos da pequena, a velha escrava não pode conter o olhar  diante daquela cena, pode ver as lágrimas escorrerem copiosamente dos olhos da poderosa mulher que nesse instante não passava de uma criança abandonada em seus medos. Ousou a interromper Xena.
- Menina, olhe pra mim.
O azul dos olhos de Xena naquela luz era quase imperceptível. Fitando o olhar abandonado, a velha desfere palavras que pra guerreira foram golpes.
- Xena, não lute consigo mesma, veja o que causou por não saber administrar o amor que sente por ela, eu não preciso saber o que aconteceu, mas posso presumir. Seu general não está pendurado lá fora à toa, e nem ela está nessa cama por nada. Eu tenho em você a filha que a vida não me deu menina, e não adianta se enfurecer comigo, que me mate a pancadas se assim lhe satisfizer. Você a ama, mas desse jeito irá matá-la. Aceite esse sentimento e tudo que vem junto com ele e com a beleza que ela carrega ou afaste-se dela. Se não o fôlego de vida dessa pequena criatura irá desaparecer em suas mãos e você não poderá viver com isso.
Xena ouviu a tudo calada, não tinha o que argumentar e sabia a monstruosidade que havia feito com sua pequena. Xena solta a mão de Gabrielle que parecia dormir tranquilamente e segue em direção a seu armário de vestes tentando digerir o que acabara de ouvir. Tinha em Mira algo próximo a uma figura materna e era capaz de entender o que a escrava sabiamente havia lhe dito. Diante da infinidade de túnicas em seu armário, escolhe uma de cor azul clara, de um tecido suave  e macio quase tanto como a pele de sua amada. Retornou em silêncio para junto da cama e encontrou Mira envolvendo o punho de Gabrielle em um tecido, fechando assim uma ferida que ali estava. A guerreira deixou sob uma mesa a túnica e delicadamente com os dedos longos e hábeis, rasgou o que ainda restava inteiro daquela túnica suja que Gabrielle tinha ao corpo. Despiu a pequena com toda ternura e se pôs a limpar o corpo que tanto desejava com sofreguidão. Mira observava cada movimento da morena.
- Xena, eu  vou me retirar, esse momento é seu, creio que esteja sofrendo o suficiente pelo ocorrido e não precisa de ninguém recriminando suas atitudes, mas me atreverei a dizer, essa menina é a sua salvação...
- Olha o que eu fiz com a minha salvação? Eu não posso sujeitá-la a isso.
- Xena, Xena, essa escolha não é só sua, é dela também. Ela te ama, eu vi isso nos olhos preocupados que ela tinha por não saber de você ontem...
Mira se põe pra fora dos aposentos deixando ali uma guerreira entregue ao arrependimento e aos cuidados com sua amada. A guerreira cuidou de cada canto daquele corpo que em outrora esteve entregue a ela. As marcas de vela seguiram e Xena deixou sua cama para a pequena, não ousou sequer deitar ao seu lado, deixou Gabrielle envolta na túnica azul, coberta com seus lençóis de seda pura. Velou o sono da escrava durante toda a noite, não tinha paz para se entregar ao sono, e mais uma vez a pequena dormia com uma paz que provavelmente ela jamais encontraria.
Os primeiros raios de sol alcançam os vitrais dos aposentos da conquistadora, que já estava de pé e embora nada tivesse dormido conseguia estar linda naquela veste negra. Seus cabelos soltos sob os ombros lhe dava ainda um aspecto mais imponente. O desjejum a pouco tinha sido deixado provavelmente por Mira na antecâmara. A guerreira se ocupara de ir ate lá e separar leite, pão e um pouco de chá e trazer até a cama, precisava alimentar a pequena que por culpa de sua ignorância estava jogada na sua cama de uma maneira que ela não desejava. Retornou até a beira da cama e ficou sentada em uma poltrona adornada com o símbolo de seu reino e observando os primeiros movimentos de Gabrielle, que ao abrir os olhos encontra no rosto de Xena  todas as angústias oriundas dos últimos atos. A pequena escrava  se encolhe, tinha claramente o medo nos olhos e a retração do corpo era o mais evidente gesto  de pavor. Xena se aproxima:
- Pequena, não tenha medo, não mais, pelos Deuses... - estendendo a mão pra tocar o rosto da menor que estava sem reação diante do que acontecia. Viu no azul daqueles olhos o pavor estampado, e a dor toma conta de si, nada era mais forte, nem mesmo a dor de seu corpo, nada era mais forte que a vontade que tinha de guardar em seu abraço a poderosa mulher que para ela não passava de sua menina, uma menina perdida em si mesma e em seus medos.
- Acredite em mim, eu não queria, mas eu não consegui evitar, eu fiquei cega, aquele homem tocando você...
Gabrielle leva as mãos ao rosto de Xena, e o segura de forma que força a guerreira a encará-la.
- Xena, eu sei como dói, me rasgou o peito ver você se entregando pra ele, mesmo eu não tendo sequer tocado em você, aquilo foi o Tártaro para minha alma. Eu não traí você, eu jamais seria capaz...
- Agora eu sei pequena, agora eu sei...
- Sh... Não, você não sabe, você simplesmente acreditou nos seus olhos, e esqueceu seu coração, eu nunca deixaria por consentimento que alguém que não fosse você me tocasse... Ele me forçou... - A voz de Gabrielle era apenas um fio.
- Não precisa me dizer nada, não precisa me mostrar o quanto eu fui imbecil, e eu não espero, Gabrielle, que você releve. Nada que eu faça me tornará digna do seu perdão.
- Você não precisa do meu perdão, você tem o meu amor.
As palavras não foram mais necessárias, e em um beijo Gabrielle calou  todas as palavras. Precisava sentir o ardor de sua amada. Xena apertava a cintura da pequena esquecendo  de todas as feridas daquele corpo, tinha urgência de libertar todos os seus medos, o beijo era calmo e intenso, era tormenta e calmaria. Gabrielle morde o lábio da guerreira fazendo a mulher gemer em seus lábios...
- Ai, Gaby, ahh, eu amo voce...
- Ai, Xena... - diz a pequena – Ahhh... - diz de novo - EU AMO VOCÊ!
O beijo desfeito deu espaço à respiração descompassada das mulheres, Gabrielle tinha as mãos enlaçadas no pescoço de Xena e fitava os olhos azuis que a desnorteava. Xena cuidadosamente estende o corpo da pequena sob a cama, e Gabrielle tinha nos olhos o ardor da paixão que queimava seu ventre, mas não tardou para que Xena tirasse dela aquela expectativa.
- Deuses, não me encare assim Gabrielle, você não sabe o quanto estou lutando comigo para não despir você, e me enfiar no meio de suas pernas, então não judia de mim?
Um sorriso se formou nos lábios da loira, que ao sorrir franzia o nariz deixando Xena completamente  hipnotizada com tamanha delicadeza. Gabrielle responde abrindo suas pernas e acomodando a guerreira com ternura entre elas...
- Será o seu castigo senhora conquistadora, não me furta isso, fica aqui comigo?
Xena foi incapaz de romper o contato, se pôs entre as pernas da pequena, tinha a cabeça acomodada sob os seios da pequena, e sentia cada toque por mais suave que fossem em seus cabelos, Gabrielle parecia embalar o sono de uma criança, cuidou mais do que foi cuidada, protegeu mais com menos força, se entregou na medida da entrega que recebeu. Jogada nos braços de Gabrielle, Xena se rende ao amor e ao sono... As areias do tempo seguiram seu curso, e a guerreira? Ah, essa estava nos braços do seu destino.

Capítulo 18. Sonhos e Enigmas

 

 Naquele corpo não existia um só lugar que não tivesse tomado por dor, abrir os olhos era difícil, não sabia se pela dor física ou se pelo medo de encarar a realidade incrustada no subconsciente. Gabrielle aos poucos e mansamente deixou que a luz dos primeiros raios tomassem pouco a pouco suas esmeraldas. Estava desorientada, pois a pouco havia despertado, e com um susto aparente se deu conta de onde estava. Uma cama macia e de lençóis nunca antes tocados por ela abrigava seu corpo maltratado. Estava na cama da senhora conquistadora. Seus olhos buscavam a realidade no ambiente em que se encontrava e não demorou muito para que sua visão alcançasse um corpo maior que estava jogado em uma espécie de trono que ficava próximo a cama.
Gabrielle demorou a se dar conta que já era um novo dia, não sabendo quantas marcas de vela havia passado. A loira estava perdida, mas se lembrava claramente da surra que havia levado.
”Xena, por quê?” - Repassou brevemente mentalmente tudo que lhe havia acontecido desde o momento que tinha sido salva de ser violentada no meio da floresta por Mezentius, sempre sonhara com o amor, mas jamais imaginou que esse podia ser de tantas formas ou que exigisse renúncias. Sabia que aceitando Xena de tantos modos renunciava parte de si mesma, e sabia também que era sonhadora demais para viver de submissão.
“Existe pensamento mais tolo para uma escrava? Uma vida inteira de submissão é o que eu tenho.” - A escrava não entendia como havia chegado ali, tinha dificuldade de se mover sobre  a cama e julgou que com os próprios pés jamais teria alcançado tal feito. Podia imaginar obra de quem mais se julgava incapaz de compreender que a mão que lhe surrou brutalmente se ocupara de alguma forma de cuidar também. Tudo que queria era sair dali, era estar longe e jamais ter conhecido como o mundo é longe do universo de amor e bondade que cultivou sempre em seu coração.
Reuniu com muita dificuldade e esforço toda força que ainda restava em seus músculos, moveu-se lentamente e de forma tão silenciosa que a conquistadora, que tão perto dela estava dormindo, não notou quando languidamente Gabrielle se arrastou pela imensidão daquele aposento ganhando  a porta de saída, e passando por uma fresta que estava aberta. Gabrielle agradeceu em prece silenciosa o fato de não ter nos corredores da fortaleza uma viva alma, era muito cedo ainda e não queria ser encontrada, desejava a morte, a dor do corpo nem de longe atingia a imensidão das dores que tinha em sua alma e as lágrimas encontram seus olhos mais uma vez. Foi invadida pela lembrança da noite anterior sendo arrastada por Xena.
“Deuses, por que justo ela? Eu aceitaria do mundo ser surrada, mas ela não.” - Sorrateiramente caminhou  nas sombras dos corredores até chegar sem ser notada a um ambiente úmido, muito frio  e escuro, sabia que ali não seria facilmente encontrada. As lembranças que tinha agora e as dores não eram em nada menores do que as que havia sentido quando passou ali  no chão gelado sua  primeira noite. Desejava agora nunca ter saído dali, nunca ter se aproximado de Xena... Seu céu, seu tártaro.
O Calor dos raios de sol invadiam cada vez mais os vitrais que protegiam o castelo, os raios teimavam em alcançar uma pele ávida, tirando de um sonho perfeito uma mulher que  não carregava consigo tal costume, fora tirada da realidade que tanto desejava em seu coração pelos raios da manhã. Estava tão perdida que ao despertar parecia procurar por algo entre seus braços, sabia o que era, deliciosamente em seus sonhos descansava nos braços de sua amada, inconscientemente sabia que  só podia encontrar paz para dormir nos braços dela, mas dessa vez havia sido traída pela exaustão dos últimos acontecimentos e havia encontrado sua paz momentaneamente em seus sonhos. Os olhos azuis foram se abrindo, percorreram desesperadamente o ambiente, procurava pela calma, procurava Gabrielle. Tudo que pode ser visto foi a pequena marca no lençol do lugar que abrigara o pequeno corpo de sua escrava.
“Deuses, eu estou velha, eu sequer a ouvi saindo, além de apaixonada estou surda”
Desceu feito um raio  pelos corredores do castelo que a essa hora ganhava seus movimentos, era possível ouvir o burburinho no pátio devido ao  general que lá estava acorrentado. Poucos passos depois Xena ganha a cozinha do castelo e falando com uma fúria costumeira quase mata Mira de susto.
— ONDE ELA ESTá?
— Pelos deuses Xena, você ainda vai me matar com essa sua mania de andar feito gato. Onde está quem? Encontrou com Hades foi?
— Mira hoje não, pelos Deuses hoje não. Gabrielle, onde ela está?
— A ultima vez que me lembro de ter visto a menina foi quando você tentava curá-la depois da surra que deu nela.
Ao se ver de encontro com a realidade Xena desfere um forte tapa no rosto de sua velha escrava que a lançou sobre a mesa de pratos. Segundos depois a conquistadora processa o que acabara de fazer e o costumeiro arrependimento  toma conta de seus olhos mergulhados nos susto.
— Mira, eu não queria...
— É só o que você sabe fazer Xena, causar dor... É a sua natureza... Não sinta nada por isso, você tem motivos maiores para sentir.
A atordoada mulher deixa o ambiente com um ar de dor que ninguém podia identificar, mas somente ela sabia o quanto a mortificava sentir. Sabia que da fortaleza Gabrielle não tinha escapado, era tudo muito bem vigiado todo o tempo, pois tinha inimigos em todos os cantos. “Onde ela está? Pelos deuses, Gabrielle, eu preciso ao menos explicar.”
Retornou a seus aposentos, colocou uma veste igualmente negra, dessa vez era uma calça que estava enfiada dentro das longas botas, uma camisa negra amarrada pelas fitinhas que cobriam seu colo, o encontro das madeixas negras com o tecido selava todo o branco de sua pele. Estava radiante, estava irada consigo mesma e o mais forte de tudo: sentia-se perdida, faltava-lhe o chão sob os pés, lhe faltava a sabedoria que chegara a seu castelo junto com a pequena. Queria poder revirar aquele castelo em cada canto a fim de encontrar sua paz, mas sabia que no momento não poderia, tinha problemas urgentes a tratar como o exército persa que não estava muito longe de cercar os limites de Corinto. Não entendia  a movimentação, mas sabia que deveria se preparar, lhe ocorreu nesse momento que algo mais urgente a esperava no pátio do palácio. Lugo permanecia nu, acorrentado a um tronco e tinha em mente que aquele seria somente o começo do tormento dele, pois carregava  a certeza que ele foi a porta do seu engano, a porta do abismo que agora existia.
Saindo pela antecâmara deu de cara com Nereu que vinha a seu encontro, esse não sabia mais como controlar a euforia no quartel devido a cena exposta no pátio.
— Senhora Conquistadora. - disse saudando a senhora do mundo.
— Nereu, não me faça perguntas redundantes, reúna meus homens no pátio, tenho coisas importantes a tratar, mas não sem antes dar uma lição em quem se atreve a mexer no que é meu.
Assustado com a frieza que via na mulher, Nereu já virava nos calcanhares para pôr em prática o que fora solicitado, quando teve sua ação interrompida.
— Escute, reúna os homens já em formação, temos problemas, o exército persa vem ao nosso encontro.
Nos olhos do general o pavor estampado traduzia bem o que era o exército inimigo. Ouviu calado e partiu imediatamente.
Enquanto a tropa perfilava no pátio em torno do tronco, Xena observava do alto da torre as expressões em seus homens, e no meio  de tantos alinhados havia  também todos os serviçais do castelo. Xena procurava entre aqueles rostos algum sinal, em vão, Gabrielle não estava ali, mas sua atenção fora atraída para uma outra figura feminina há muito conhecida...
Melina andava entre os servos como se estivesse se escondendo, estava sorrateira e observava tudo de canto como uma ladra. Mentalmente Xena toma nota do que de longe observava, sabia da obsessão da mulher por ela. Desceu rapidamente até o pátio onde a altura do sol denunciava que passava da metade do dia. Ali estando caminhou lentamente até Lugo e sentia que cada par de olhos estava nela mirado, todos esperavam o momento que ela cravaria a espada que trazia nas costas nas entranhas do homem. Xena rondava o homem como quem acua uma presa e sussurra fazendo com que praticamente somente ele ouça:
— Sua ousadia está me custando o que me é mais caro, pagará muito alto por isso, idiota.
Então ela diz, para que todos ouçam:
— Ouçam! Esse imbecil ousou me desafiar, ousou tocar no que é meu, e agora serve como exemplo vivo do que tais ousadias levam. Uma coisa que me é muito cara sumiu, e enquanto eu não tiver de volta ele ficará aqui, sem água, sem pão e sem roupa, se alguém for imbecil o suficiente para se arriscar e tentar ajudá-lo terá destino semelhante.
Os soldados perfilados ouviam atentamente, aquilo parecia pior que a morte, o sol do dia escaldante e o ar congelante ao anoitecer levariam o general à morte muito em breve. Xena falou a seu exército, girava a espada no ar como se o golpeasse, falou dos persas, falou da morte, e falou de glória. Aqueles homens iriam com ela ao fim do mundo, entregariam suas vidas pela dela, e meia marca de vela depois quando se preparava para se retirar e se reunir com seus conselheiros a fim de ter uma estratégia para defender Corinto, mais uma vez o general humilhado que permaneceu calado todo o tempo berrou na multidão:
— Sua putinha não era só sua, senhora conquistadora? Você perdeu Xena, nada mais será só seu. HAHAHAHAHA
Xena controlou  cada músculo de seu corpo para não partir aquele homem ao meio. Caminhou  quase correndo para o interior do castelo, as palavras foram um choque, remeteram a Gabrielle e não saber dela, não saber se teria de novo o toque, o olhar daquela pequena lhe dilacerava por dentro. Arrastou consigo para dentro Nereu e a ele incumbiu mais uma vez encontrar Gabrielle:
— Ouça bem, que tenha todos os homens do mundo aí fora querendo me matar não me importa, eu  preciso que você encontre Gabrielle. Ela está aqui, ache-a e traga-a pra mim. Dessa batalha eu não sei se volto, quero ao menos me despedir daqueles olhos, amigo. - Disse com uma tristeza na voz que assustou seu fiel comandante.
—Xena, quem diria que um dia isso te alcançaria. - disse o general com um sorriso maldoso nos lábios. – Reunirei homens de minha confiança, e a trarei em sua presença.
Batendo no peito o homem em alguns instantes desapareceu do campo de visão de Xena.
De onde Gabrielle estava no vazio e escuro  daquela cela ouvia Xena bradar no pátio do palácio, não entendia como o som da voz daquela mulher era capaz de mexer com cada  músculo de seu corpo e sabia também que esse fora um dos motivos que saiu  fugindo de um embate com a senhora do mundo. Estaria em clara desvantagem, resistir àqueles olhos e àquela mulher, seria uma surra de argumentos contra uma surra de sentimentos os quais mantinha e acreditava que em algum lugar a poderosa mulher também guardava. De repente o silêncio se fez, se encolheu um pouco mais como se tentasse se esconder ainda mais naquela ação, soube que lá fora ela não mais estava quando reconheceu os passos pesados indo a alguma parte do longo corredor que estava  paralelo com sua cela.
O vento frio anuncia que a noite cairia sobre todos em poucas marcas de vela, Xena estava presa na antecâmara, procurava traçar milimetricamente sua defesa e seu ataque, sabia da imensa desvantagem, mas em nada questionava a bravura de seus homens. Recebeu com desgosto e profunda irritação a informação de que sua pequena não fora encontrada nos arredores e dentro dos muros de Corinto.
— Deuses, eu estou cercada de burros no lugar de homens, como uma escrava desaparece dentro desses muros e ninguém a encontra, terei eu mesma que procurá-la? - Nereu e três de seus homens permaneceram de cabeça baixa. - Escute aqui, se voltarem a minha presença sem ela, a morte de vocês será o preço da incompetência.
— Sim, senhora conquistadora.
Xena se dirige a seus aposentos e na solidão que ali guardava observou a escuridão que caiu sobre  os muros e ela, o  principio de uma luz  que esteve tão a sua superfície havia também desaparecido, mergulhou na água morna da tina, alguém havia lhe preparado o banho e sabia que não era Gabrielle. Permitiu-se relaxar ali, depois de um tempo se pôs de fora, enrolando o corpo  no lençol que estava em sua cama, ele trazia o cheiro dela, o perfume que embriagava a guerreira. Inevitavelmente a lembrança da noite que tivera rendida a sua pequena a invadiu com força “Deuses como é doce, como é suave aquele toque e ao mesmo tempo fatal, eu a amo... Sou capaz de tudo para ao menos tê-la perto de mim...”
Uma fumaça rosa e um perfume doce tomam conta do ambiente, Xena sequer se vira para contemplar a Deusa do Amor...
- Afrodite, a que devo a honra?
– É sempre bom vê-la Xena, sua beleza também é sinônimo de amor, eu lhe disse que aconteceria, não?  
- Ando sem tempo para reflexões, Deusa burra.
— Xena, como sempre petulante. Ouça... Eu ouvi seus pensamentos e conheço seus sentimentos. Xena, és mesmo capaz de tudo por ela?
— Afrodite, o meu tudo é ela.
Ao ouvir a confissão a Deusa já desaparecendo diz:
- A resposta está em seu coração, se fores capaz de entender a renúncia entenderás o amor, castigarás  o seu coração, mas manterá o dela a bater...
 Restou a Xena o aroma das rosas.
Xena mais uma vez sabia que o sono não a encontraria, abriu os olhos na escuridão e  em um fio de consciência parecia a empurrar  pelos corredores vazios e frios, tinha no corpo apenas uma túnica, os pés descalços encontrando o frio das pedras, o mesmo frio que no chão daquela cela quase no pátio do castelo abrigava Gabrielle.
Ao se deparar mais uma vez com aquela cena, no canto encolhido como na primeira noite, estava sua pequena dormindo em uma paz que ela jamais encontrara. Ousou se aproximar, ousou tocar e constatar que o frio tomou conta da menina e não era somente do corpo. A alma de Xena  se despedaçou  ao golpe das palavras.
— NÃO TOQUE EM MIM, VOCÊ É UM MONSTRO!
Na escuridão da noite os cálidos olhos azuis encontram com espanto uma fúria dominando as doces esmeraldas.

Capítulo 19. Encontros e Desencontros

Xena parecia não processar as palavras que lhe foram um soco na boca do estomago, enfrentava a fúria de uma alma igualmente apaixonada, mas incapaz de entender a escuridão daquela mulher. Lentamente a guerreira foi deixando a mão em suspenso e a afastava do rosto da loira, permitiu que a tristeza encontrasse seus olhos e diante da menina chorou.
- Se afaste de mim Xena, você só conhece a dor, e sabe como ninguém infligir aos outros, fui tola ao pensar que poderia ser diferente.
- Deixe ao menos eu falar a você tudo que quero...
- Não, Xena, porque eu sou fraca demais para isso, eu sou fraca demais diante de você. - Gabrielle parecia saber que se ouvisse a mulher não era capaz de sustentar o ódio que pensava sentir.
- Gabrielle, não faça disso o meu tártaro, venha comigo, vamos conversar em outro lugar, aqui é congelante.
- Não Xena, aqui não é lugar pra você, mas aqui é o meu lugar, o lugar de uma escrava.
- Eu não sei lidar com pessoas, eu não sei lidar com sentimentos, com os meus sentimentos em relação a você.
Os olhos se encontraram em meio a escuridão, e o silêncio de segundos parecia durar a eternidade.
- Xena, eu sou sua escrava e como tal não posso ter ambição de um querer, levo a vida que me for imposta e se assim desejar serei sua escrava de corpo como tantas outras já devem ter sido, mas o meu coração não pode ser entregue a você, não mais... Eu morreria.
- Pelos Deus, não. Eu não a quero como uma escrava de corpo, nunca foi assim. Não se afaste de mim, Gabrielle, estarei perdida para sempre.
Gabrielle sentia a dor que havia na guerreira em cada palavra pronunciada e somente ela sabia que dor sentia ao dizer tudo aquilo a seu amor. Se pondo de pé andou até Xena, que agora estava  de costas pra ela. O magnetismo que as envolvia era algo muito forte. Xena podia sentir o calor da pele da menor se aproximando, e se vira para fitar, para encontrar os olhos de Gabrielle mesmo na pouca luz.
- Oh, Xena, não se torture tanto, eu não sou um preço tão alto a pagar.
- Você é o que eu tenho de bom pequena, e sou capaz de tudo até que olhe pra mim de novo com a mesma doçura e pureza que me encarou ainda fora desses muros nas garras de Mezentius.
- Não procure por isso, eu não sou mais aquela, eu  mudei desde que a encontrei, eu conheci você, e fui tola o suficiente de me apaixonar por você e isso me torna uma pessoa que nunca fui.
- É tão horrível assim? Jamais pensei que pudesse ser tão destruidora, e nunca levei a sério esse título até agora.
Gabrielle nota, mesmo no meio de tanta amargura, um resquício de humor na mulher. Xena era ainda mais apaixonante quando se permitia ser tomada pelo humor.
- Não, não e horrível, é divino...
Xena não controla seu impulso de estar tão próximo de sua pequena, o cheiro daquele corpo alcançava suas narinas e era embriagador... As fortes mãos da guerreira encontram a cintura da menor, Gabrielle não tinha força para evitar e também não queria. Xena uniu seu corpo ao de Gabrielle e era possível sentir o tremor, não sabia se era de seu próprio corpo ou se era a pequena que vibrava com o contato, talvez fosse ambas. Involuntariamente, mesmo exasperando com Xena pela ação, Gabrielle não foi capaz de se desprender do contato, era como se todo o frio cortante desaparecesse e tudo que sentia era o ardor do desejo  pela mulher. “Deuses, Gabrielle, ela quase te mata e você ainda quer estar aqui” – Me solta, senhora conquistadora.
Xena a puxa ainda mais forte contra si.
– Não antes disso.
Uniu seus lábios aos da pequena escrava e agora tinha certeza que o tremor tomava ambas, o beijo foi correspondido com ardor, o jeito de Gabrielle beijar, mordendo os lábios da guerreira a tirava a razão. Andou lentamente para trás sem deixar de invadir aquela boca que a pertencia, as línguas tinham urgência do toque, os choques percorriam os corpos. Xena encosta na fria parede e era incapaz de sessar o beijo, queria com loucura fazer amor com Gabrielle, gemia como uma gata nos lábios da pequena, os gemidos de Xena causavam tudo em Gabrielle. Já sem folego para sustentar o beijo e já sem força para resistir, a pequena loira rompe o contato e leva a boca ao ouvido da maior ficando na ponta dos pês:
- Guarde com você algo que pertenceu somente a mim, e quero que fique com você.
A pequena figura alcança sua mão retirando-a de sua cintura e lentamente. Enquanto a conduzia, disse olhando no azul que brilhava na escuridão:
- Me tomou como sua, mas não me fez sua mulher.
O tempo parecia ter sessado naquele segundo para a guerreira, arfou com o que ouviu, sabia o que a pequena queria, sabia que na noite que fizeram amor não tinha roubado a virgindade dela, não queria sem ter certeza que o querer era comum, e ela alucinadamente queria aquela mulher. Com uma mão que  ainda descansava na cintura da menor, Xena a põe de encontro com a parede.
- Menina, você vai me enlouquecer! - disse a guerreira ao contato com a abertura das pernas da outra, sentia sua Gabrielle molhada.
- Aaiin, Xena, eu quero sentir mais uma vez!
A boca da menina foi tomada, junto com sua inocência. A guerreira não conteve seu desejo quando sentiu a escrava puxar a fita que prendia sua túnica deixando-a nua, seu corpo em brasa, sua vontade somente a permitiu erguer  o tecido que cobria as coxas de Gabrielle. Puxou uma das pernas pequena enlaçando sua cintura. Gabrielle tinha levado sua mão até seu centro, implorava em ações que a guerreia a rompesse, os dedos longos de Xena roçavam o clitóris inchado pela excitação da pequena, deslizava no melado que escorria dali, sentia a menina abandonada em suas caricias, gemia sem parar nos lábios macios que sugava com paixão.
- Ainn... - dizia mordendo aquela boa. – Olhe pra mim, olha pra mim.
Implorou que Gabrielle sustentasse o olhar, gemeu, e invadiu o centro encharcado que lhe era oferecido, perdeu o controle, num vai e vem intenso, com estocadas cada vez mais fortes, gozou uma, duas vezes, três vezes e sentiu agora sua mulher explodindo no clímax em seus dedos, e seu nome sendo sussurrado.
Gabrielle era incapaz de resistir àquela mulher. Jogaram-se no chão frio, queriam tudo, as pernas da guerreira arreganhadas na boca da loira que sugou tudo que a guerreira lhe deu, mamou no clitóris duro de Xena, levou ela ao quarto orgasmo. Amaram-se intensamente, como se fosse a última vez...  
Já se aproximava do momento  do carro de Apolo ganhar os céus quando a menina se aninhou  nos fortes braços, Xena sentia em seu coração a paz que  inconscientemente tanto buscava, sabia  que ao seu lado a menina corria riscos, mas estava disposta a pagar com a vida a salvação dela.
- Gabrielle, venha comigo, vem preguiçosa. - Dizia a guerreira na esperança de despertar a outra e saírem daquele lugar tão gelado. Tudo que teve como resposta foi um ronronar preguiçoso. Sorriu... Colocou com cuidado a cabeça da menina ao lado. Enrolou-se rapidamente na fina túnica que veio  vestindo, ergueu o corpo de Gabrielle que a segurava forte e sequer era capaz de se dar conta que mais uma vez a guerreira a levava dali nos braços.
Outros tempos, outras circunstâncias. Xena não tardou em alcançar  os seus aposentos com a pequena no colo. “Deuses como é leve, tão pequena, tão poderosa”. Xena não se preocupou em cobrir o corpo de sua menina, a havia  carregado ao longo do corredor nua, sabia que pela hora não encontraria ninguém e tudo que queria era deixar o frio lá fora, a colocou com delicadeza em seus lençóis, tirou de si o pano que cobria seu corpo escultural, aninhou-se em seu amor  e entregou-se ao sono nos braços da pequena criatura.
Ao  acordar  sozinha na cama Gabrielle não entendia como mais uma vez estava ali, se lembrava de se aninhar a Xena em dependências muito inferiores e começou a imaginar a mania que a guerreira tinha de carregá-la feito criança. Havia sido maravilhoso mais uma vez estar com ela, mas pensava que ali não era seu lugar, havia dito isso a Xena em plena lucidez na noite anterior. Tinha se entregado ao seu sentimento mais uma vez, queria dar a Xena algo que era só seu, quis a mulher com a mesma intensidade, mas sabia que não deveria se permitir continuar com aquilo como se fossem iguais.
Pôs-se de pé rapidamente e se deu conta que não havia roupa sua ali. “Pelos deuses, o que essa mulher faz comigo?” Correu até onde sabia ficarem abrigadas as roupas de Xena, passou a mão em uma túnica qualquer, se enrolou e saiu, foi até o aposento que lhe era de direito naquele andar, pensou que a fúria tomaria logo a senhora conquistadora e sorriu por pouco tempo, nunca era agradável  encarar a Xena furiosa. Xena estava nas dependências da cozinha a procura do seu desjejum, Chegou falando alto e sorrindo para Mira, não havia  esquecido  de como ignorante havia sido com a velha escrava, mas não era boa com as palavras. E ensaiou algo parecido com um pedido de desculpas.
- Mira, eu sinto muito pelo...
- Menina não, não precisa disso, está tudo bem.
Saindo do embaraço a guerreira se deu por satisfeita, pois estava totalmente embaraçada na situação.
- Me dê algo pra comer, eu estou faminta.
- Posso imaginar, pelas suas exaustivas atividades dessa madrugada não me espanto se comer um boi inteiro. - Disse a velha mulher com um largo sorriso.
Xena estava em uma situação inédita, estava ruborizada.
Aproximando-se da guerreira a velha escrava lhe entrega um pedaço de pão dizendo:
- Ninguém nesse castelo pode dormir, não pelos sons perturbadores, mas sim pela inveja. - Riu novamente.
 Uma desconcertada guerreira pega o desjejum e volta a seus aposentos pelo longo corredor, abrindo  a porta pragueja todos os deuses:
“Mas que Hades, sumiu de novo”
O primeiro  lugar que a guerreira vai é o espaço destinado a Gabrielle naquele andar, entrou sem bater e furiosa. A fúria acabou quando  seus olhos encontraram  Gabrielle dentro da pequena tina que ali havia.
- Que mania irritante de fugir do meu quarto. - Disse a guerreira se aproximando da tina, quase tocando na menina, o toque bruscamente interrompido.
- Não Xena, Isso não pode continuar... Não somos iguais e nunca seremos.
- Mas, Gabrielle, eu pensei...
A Frase foi interrompida pelos dedos da menina nos lábios da guerreira:
- É divino ser sua, mas isso não pode  continuar. Serei apenas o que sou, uma escrava pronta pra lhe servir, senhora.
 Mais uma vez as palavras deram uma surra naquela que não era acostumada a apanhar.   Ergueu-se sem nada dizer, o estampido da batida da porta ecoou pelo corredor do castelo.
Gabrielle lutou com as lágrimas até terminar o seu banho, Xena lutou com sua raiva para não deixar ser tomada pela cegueira do ódio, teve certeza que Gabrielle brincava com seus sentimentos, via tudo menos o medo que a menina tinha, mas disposta estava em fazer tudo que dissera na noite anterior, faria tudo  para mantê-la por perto. Não tardou para que Gabrielle entrasse naqueles aposentos para arrumar tudo como mandava suas obrigações de  escrava, Xena não estava lá, permitiu-se pegar a veste que estava jogada sobre a cama, a mesma que tirou do corpo da morena na noite passada, aspirou o cheiro que nela estava grudado. “Deuses, me deem força, para suportar estar perto estando tão longe”

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