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DAS SOMBRAS DA MALDADE AO FOGO DO AMOR – Capítulo 15: Pertenço a Você




A luz do dia invadia  o ambiente e aos poucos trouxe o azul dos olhos ao encontro da realidade. Xena desperta e não contem o sorriso ao ver que em cima de si um anjo loiro estava completamente emergido no sono, e tinha todo o pequeno corpo jogado sobre o dela. As lembranças da noite anterior a invadiram e a fizeram sorrir,  permitiu-se ficar contemplando a beleza por mais um tempo, até que com um suave beijo na testa da menor a desperta. Gabrielle é tomada por um susto até se dar conta de onde estava e do que ocorrera na noite anterior...
- Sou tão assustadora ao acordar, Gabrielle?- disse a guerreira com humor na voz.
- Deuses, Xena, não! É... Hum... Que... - disse a pequena apontando os corpos nus.
- Melhor visão eu não poderia ter a essa hora.
Gabrielle para em total estado de encantamento ao ver o sorriso da conquistadora.
- Pequena, era tudo que eu não gostaria agora, mas temos que voltar a Corinto, tenho coisas a resolver e são sérias... Ouça, eu não sei ainda o que fazer com esses sentimentos todos que estão em mim... Eu tenho tanto medo... De não saber lidar, de me enfraquecer, de machucar você... Mas ouça... Confia em mim?
- Xena, deuses! Eu nunca pensei, eu sou só uma escrava... E agora?
- Eu não tenho resposta pequena, mas você me tem.
Um beijo transformou tudo em silêncio. Xena ainda estava deitada sobre as peles admirando as curvas de sua amante, estava enlouquecida por ela e não negaria isso a si mesma.
Levantou-se com dificuldade pelo corte que tinha na coxa, as últimas emoções quase a fizeram esquecer o fato, mas ao sentir a dor cortando os músculos da perna lembrou-se com lucidez do que a esperava no retorno a Corinto. Batios havia sido arrastado por ela e estava muito ferido, mas não o suficiente para morrer. Queria castigá-lo na frente de todos. E ainda se recordara de Lugo que havia a traído naquela investida contra ela. Após estar vestida aproximou-se da pequena:
- Gabrielle, eu preciso voltar a Corinto, preciso pôr em ordem as coisas no Castelo, pois não creio que  o ataque que sofri parará com essa batalha.
- Xena, é sempre assim?... Perigoso?
- Gabrielle, eu tenho inimigos em todos os cantos da Grécia, eu sempre vivi assim. Ou se esqueceu de quem eu sou?
- Xena, não podemos mudar o que aconteceu aqui, e é estranho pra mim...
- Ouça Gabrielle, não podemos mudar e eu não gostaria de mudar porque eu desejei muito que acontecesse... As coisas são diferentes agora.
- Diferentes? Como?
- Você é minha, Gabrielle.
- Mas isso eu sempre fui, desde o dia que entrei em Corinto como sua escrava.
- Você é minha não dessa forma, e as coisas agora são diferentes e podem ser perigosas pra você pelo simples fato de estar ao meu lado.
Gabrielle se enlaça em Xena em um abraço falando contra seu peito:
- Não tem lugar que eu esteja mais segura que aqui, entre seus braços Xena.
Xena aperta a pequena no seu abraço e lhe dá um beijo no topo da cabeça.
- Precisamos ir. Venha, monte comigo.
Xena colocara a escrava na sela a sua frente onde contornou sua cintura com as mãos bem perto do ventre deixando-a colada em si. A guerreira amava aquele contato, o toque daquele corpo  lhe tirava e lhe trazia a paz. Cavalgaram em silêncio até bem próximo de Corinto, onde era possível ver o quão feia tinha sido a batalha. Gabrielle se encolheu contra o corpo de Xena enquanto passavam por alguns corpos ainda em campo. Nem mesmo a segurança que sentia ao ter a guerreira grudada nela era suficiente para afastar o horror do que vira. Não conseguiu conter o choro diante daquilo. Xena fingiu não perceber a fraqueza de sua amada, mas não foi capaz de fingir não saber o quão a alma daquela menina  era pura. “Deuses, Xena,  o que você está fazendo? Apaixonada por uma escrava medrosa. Seria justo levar dela toda essa inocência?”
Xena optou por entrar por seu estábulo particular.  Entrou na estreita abertura guiando sua égua, gemeu de dor ao desmontar e sentir o toque da perna no chão. A dor do corte era dilacerante.
- Xena, precisa ver o curador... Sua perna...
- Não será necessário, tenho quem cuide de mim.
O olhar de Xena para Gabrielle era entorpecedor, estava escancarando seus sentimentos para aquela pequena e sabia o quão perigoso era entregar seus sentimentos a alguém. Isso havia acontecido em outro tempo e as coisas não haviam saído bem.
Subiu as escadas com dificuldade até estar em seus aposentos. Ao entrar foi se despindo enquanto  se encaminhava para a sala de banho. Rapidamente Gabrielle se pôs a preparar o banho da guerreira, quando parou absolutamente perdida na visão de Xena nua pronta pra entrar na enorme tina que ali havia. Xena deixa escapar um malicioso sorriso mergulhando na água.
- Lave minhas costas.
Gabrielle se entrega com prazer aquela tarefa, lavou o corpo da morena, seus cabelos... O toque suave da pequena estremecia Xena, que numa furtiva tentativa de desvencilhar dos pensamentos a interrompe:
- Assustei você, pequena, quando entrei aqui nua?
- Não, é que... Hum, eu fiquei sem graça.
- Não se acostumou ainda em me ver nua?
Aproximando-se do ouvido da guerreira em um sussurro:
- Nunca me acostumarei com tal perfeição, senhora conquistadora.
- Tire a roupa e entre aqui comigo... Deixa-me banhar você.
- Mas, Xena, é sua sala de banho particular... Eu não devo.
- Entre, Gabrielle.
A pequena escrava se põe de pé na frente da guerreira e deixa cair sua túnica surrada. O olhar de Xena percorreu cada centímetro daquele corpo antes que ele mergulhasse nas mornas águas.
Gabrielle sentou-se de costas para Xena, que pacientemente lavou as costas da menor. Intensificando o toque, percorreu os seios, o abdômen e parou antes de tocar o sexo da pequena. Gabrielle quase que implora pelo toque, queria ceder e ser mais uma vez daquela mulher, tinha uma necessidade imensa de ser possuída por ela. Gabrielle se limita a pegar as mãos da conquistadora e encaminhar seus dedos até sua fenda molhada não pela água. No ouvido da pequena Xena quase gemia:
- Deuses, você será meu Tártaro... Não, Gabrielle, não agora...
Gabrielle joga a cabeça pra trás sobre os ombros da guerreira em total frustração.
Xena estava lutando sua maior batalha em sair daquela tina negando seu desejo, tinha o meio das suas pernas  molhado pela vontade de possuir a pequena, mas tinha ordens a dar e coisas a resolver e iria começar ordenando ali.
- Gabrielle, de hoje em diante não quero você como uma escrava qualquer... Você é só minha, entendeu? Nem pense em fazer algo na cozinha, fará suas refeições junto a mim, e ordenarei que providenciem roupas adequadas a você. Andarás a meu lado nesse castelo e para tal precisa estar à altura. Ficará uma deusa, a minha deusa. – ao dizer isso, beija os lábios da pequena com paixão e mais uma vez é uma guerra se livrar do contato.
Xena estava divina vestindo uma calça negra que insistiu pôr sobre o ferimento ocultando assim sua fraqueza, tinha uma camisa de mangas longas branca como a neve sob  a parte de cima do  corpo, e Gabrielle fechava com todo cuidado as cordinhas que prendia a frente  da gola. E sob os seios da guerreira, calçou as botas e estava pronta pra enfrentar a corte em mais um dia que seria movimentado.
Xena abre a porta dos seus aposentos ordenando à  um guarda que reunisse imediatamente os conselheiros e todos no pátio do castelo, e isso incluía também os generais, nobres e escravos. Mandou também que trouxessem Mira à sua presença. Estava sentada no alto trono da antecâmara lendo alguns pergaminhos. Havia deixado que Gabrielle fosse até seu quarto e ordenou que descansasse e ficasse lá  até que fosse avisada.
- Mandou me chamar, menina?
- Mira, quero que cuide de Gabrielle. Dê a ela roupas. Não roupas de escravos, vista-a como minha acompanhante.
- Oh Xena, finalmente. - disse se aproximando com ternura no olhar. - Não precisa esconder isso, não de mim, está mais claro que a luz do dia, está nos seus olhos o que sente por ela, e eu fico feliz em saber que alguém cuida do seu coração.
- Velha tola, quem disse que eu tenho coração? Faça o que eu ordenei, cuide dela como se cuidasse de mim e dê a ela somente o que daria para mim.
- Sim, senhora. - Mira já estava saindo quando foi surpreendida:
- Uma palavra sobre o meu coração, e sobre o que ela é pra mim, e eu a crucifico no pátio, velha intrometida.
Xena passou a manhã em reunião com o conselho antes de se dirigir ao pátio na presença de todos. Iria sentenciar seu inimigo e tinha em mente também assustar seu general traidor, mas não iria abatê-los, pois sabia que podia ter algo mais e não iria perder a chance de saber se mais alguém também a queria destronada, e iria usá-lo para isso.
Desceu a passos largos o corredor e parou na porta do quarto de Gabrielle e, ao entrar, a vista que encontra era de uma pequena bem diferente daquela que amanheceu em seus braços. Gabrielle trajava uma túnica de tom verde quase da cor dos olhos. A túnica era justa e terminava antes dos joelhos e dava a seu corpo justiça as curvas que nele trazia. Xena ficou  encantada com a beleza a sua frente.
- Quem nunca vai se acostumar com tamanha beleza sou eu. Vamos.
Desceram em direção ao pátio, e ao chegar lá Gabrielle parou no canto próximo a Mira. Tinha na figura da escrava  uma referência e sabia que naquele momento Xena era absoluta, era autoridade, era a Conquistadora de Nações e não reconhecia nela a mulher com quem estivera tão intimamente.
No meio do pátio estava Batios amarrado a um tronco, pelos pés e mãos, o rosto coberto por sangue seco e aparência de  um moribundo. Xena o rodeia e vai falando em alto e bom som para que as palavras alcançassem a todos:
- Mais um imbecil tentou tomar Corinto e meu reino, mais um idiota que pagará por tentar me afrontar! - disse enquanto chutava o homem - Deixo claro a todos vocês o destino de quem ousa me desafiar! - um soco atinge em cheio o rosto do homem que quase não tinha sentidos - Sei que entre aqueles que aqui estão comigo existe os que desejam que a próxima a estar em situação semelhante a desse bastardo seja eu, e é pra esses que vou falar, tentem 1000 vezes que 1001 serão vocês aqui nesse lugar, e se exemplo lhes serve de algo...
Xena puxa da bainha de um dos soldados que fazia guarda perto dela a espada, e começa a torturar o homem. Cortou uma das mãos, e o sangue do homem jorrou no pátio. O som do riso de Xena toma todo o ambiente, seus olhos estão escuros de ódio, mas pela primeira vez ela não sentia prazer em fazer aquilo. Cortava lentamente o homem causando horror em todos com o banho de sangue, mas não o matava. Até que, ao lhe rasgar as entranhas jogando as tripas do homem ao chão, encontrou as lagrimas nos olhos de uma pequena e conhecida figura que tentava a todo custo abafar os soluços. Diante daquilo Xena fica petrificada e acaba com toda a cena do pátio dizendo:
- Que sirva de referência pra quem pensa em cometer a mesma imbecilidade!
Xena entra no castelo com raiva de si mesma ao notar o poder que Gabrielle exercia sobre ela, sentiu-se desconfortável com o que havia feito e isso em qualquer situação seria um prazer pra ela, mas não agora. Passou ao lado de Gabrielle e desejou morrer para não ter que encarar o olhar banhando em lágrimas da pequena. Xena naquele momento soube que podia suportar qualquer dor, mas não podia suportar causar dor naquela pequena figura que era grande demais dentro do seu coração. Entrou a toda pressa na antecâmara batendo a porta atrás de si, e lavando as mãos de sangue em uma bacia que ali havia. Estava pronta para sair e ordenar que chamassem Nereu quando sente o cheiro peculiar que só uma criatura trazia...
- Apareça, Ares! O que você quer comigo? - disse entre os dentes.
- Xena, é irritante essa sua mania de me perceber sempre.
- Ares, eu não estou com paciência, é melhor sumir do mesmo jeito que apareceu.
- Xena,  Xena,  é só um aviso. Tão afortunada foi ao conquistar o mundo sem pensar em ninguém e nada além do poder que desejou. Tão desafortunada será se contrariar isso. Posso dar cabo dessa pirralha por você.
Xena dá um chute certeiro no peito do Deus da guerra fazendo com que caia de costa no chão.
- E só um aviso Ares, chegue perto de Gabrielle que eu mesma o arrasto por toda Grécia! Não toque nela.
- Você está fraca, guerreira.
Gargalhando, o deus da guerra desaparece em meio a fumaça. A ameaça contribuiu em muito para piorar o humor da guerreira, que não sabia como lidar com o pavor que causara em sua pequena amada. Impaciente, a guerreira sai pelos corredores buscando  os olhos esmeraldas que eram capazes de tudo fazer com ela. Ao não encontrá-los, se encaminha ao quartel e tira de lá Nereu e o indaga sobre o paradeiro do emissário que mandou para levantar a vida de Gabrielle e seu passado. Tudo que soube de Nereu é que o homem ainda não havia dado noticia.
- Pelos deuses! Você mandou uma lesma no lugar de um homem? Nada nesse lugar sai da forma que quero se eu mesma não fizer!
- Senhora conquistadora, eu vou mandar outro...
A Frase do general não foi completada antes de Xena sair bufando pátio afora. Encaminhou-se até a cozinha onde pegou com Mira algumas provisões e se limitou a dizer que estaria fora do castelo.
- Vou  precisar sair pra resolver uma coisa que esses homens incompetentes não conseguem fazer. Cuide dela como faria comigo.
Mira acena em concordância e vê a sombra de Xena afundar nos estábulos.
Xena monta sua égua e sai  pelos fundos do castelo sem chamar atenção, queria de fato  saber as raízes de Gabrielle e se de fato não era uma escrava. Aquilo para ela não tinha mais importância, mas para todos teria. Não podia ter como consorte uma escrava e seria muito mais fácil se fosse a eleita uma mulher livre.
Saiu em disparada  pelos verdes campos rumo a Potedia. Iria encontrar no caminho o emissário e apressar as coisas, Xena só não sabia que estava fazendo exatamente tudo que não deveria...
Longe dos olhos azuis, Gabrielle andava distraidamente pelo jardim do castelo tentando  tirar do pensamento a cena que viu, não cabia nela a maldade de Xena, não suportava saber que a  mulher que lhe causava tudo levava a vida como nada, as  mesmas mãos que a entorpecia  e causava febre em seu corpo eram as mãos que tirava vidas.  Não podia negar que Xena mexia com ela de muitas formas, mas não concebia a ideia da maldade dentro daquele coração, o mesmo coração que por ela tinha amor. Gabrielle estava tão distante de tudo que não percebera que estava sendo de perto observada por  uma sombra que a seguia desde que saiu dos aposentos acompanhada de Xena.
“Você nunca a terá, o coração dela nunca será de ninguém se não meu...”.
Xena cavalgava já na escuridão, estava longe de Corinto, e longe também da temida mulher que sempre fora, da maldade que  trazia consigo desde que se tornou soberana no mundo. Pensava em Gabrielle com ternura, e a lembrança da loira embriaga seus sentidos. “Como sinto falta de estar perto dela, como foi divino  sentir que ela também quer... E como é terrível ver a dor naqueles olhos, nos meus olhos... Sim, meus olhos... Eu já não pertenço mais a mim...”. 
Do Monte Olimpo Xena era observada com olhos de ódio...
“Você não pertence mais a você porque nunca teve as rédeas de si. Você sempre pertenceu e pertencerá a mim, Xena”.
Na cama perdida em sentimentos e pensamentos, Gabrielle procura a paz para seu sono. Havia revirado o castelo e não a encontrara, não encontrou Xena, não encontrou sua paz...




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