Muito
antes dos primeiros raios de sol apontar nos céus, Xena se ergue da cama e
coloca sobre o corpo uma longa túnica de seda preta que contrastava lindamente
com a tonalidade de sua pele; seus longos fios negros caídos sobre os ombros
deixava sua figura ainda mais esguia. Embora tão simplesmente vestida após acabar de sair da cama sem ter
dormido quase nada, aquela mulher era divina.
Saindo
de seus aposentos seguiu direto para a cozinha a procura de Mira; iria dar a
ela instruções para ensinar como e o que a jovem escrava deveria fazer
diariamente em seus cuidados pessoais. Desde que se estabelecera em
Corinto, a única responsável por tal tarefa era Mira. Xena não confiava
em ninguém para que tivesse um contato tão próximo e acesso a seus aposentos,
pois vivia cercada de traidores.
Mira
ouviu tudo que a imperatriz dissera com total espanto, mas com um fundo de
alegria, pois sabia que Xena nunca deixava ninguém tão perto dela e ficou mais
surpresa ainda ao saber o que a conquistadora havia feito com a escrava após
ter sido deixada na sala de audiências há dois dias, pois acreditava até então
que Xena havia dado fim à vida da pequena, pois essa não tinha sido mais vista.
Xena
retornou a seus aposentos, pois ainda era muito cedo, iria se preparar para um
dia de treinamentos com seus soldados no pátio, tinha em mente promover alguns
desafios, e se exercitar sempre a fazia bem. Forjada no campo de batalha, a
guerreira sentia falta das duras batalhas que enfrentou que ficaram perdidas em
seu passado.
Sabia
que precisava descobrir quem era o traidor em seu castelo e quanto mais perto
tivesse dos seus homens, mais fácil seria de identificar; tinha certeza que era
um de seus generais ou tenentes e iria descobrir e estripá-lo junto com Batios
na batalha que se desenhava.
Gabrielle
foi despertada por Mira conforme orientada pela Imperatriz, coube a ela
informar a jovem escrava de sua nova rotina no castelo e lhe mostrar o
que deveria fazer diariamente e ressaltou também o que não deveria.
-
Gabrielle, é muito fácil lidar com ela, não a desafie, faça o que ela
ordenar e você não terá problemas.
A
escrava ouviu muito atentamente, era muito esperta embora nada conhecesse do
mundo. Tomou notas mentais da forma como deveria organizar os aposentos de sua
senhora. Mira saiu porta afora deixando a escrava a tomar conta de seus novos
afazeres, Gabrielle se viu frente ao armário onde ficavam alinhadas as roupas
da guerreira, nunca havia colocado os olhos em coisas tão finas, e observando
algumas peças se pôs a imagina-las no corpo de Xena. Aquele pensamento trouxe
estranheza à escrava. O quarto da conquistadora foi arrumado primorosamente e
muito antes do tempo. Gabrielle se permitiu chegar próximo aos vitrais pra
olhar em torno, sabia que a conquistadora estava à volta com os problemas do
governo, mas se surpreendeu ao olhar para o pátio e ver toda a guarda de
Falcões a postos e em fileiras bem organizadas estava um batalhão de homens com
postura alinhada. Nesse momento no portão que dava acesso ao pátio pelo lado
contrario entra Xena, com suas vestes de couro, espada presa às costas.
“Uau,
ela é linda... Poderosa, e assustadoramente imponente” - isso era tudo que
cabia na mente de Gabrielle.
Ficou
ali espiando de longe a imperatriz desfilar entre os homens, observou que
aquela justa roupa de couro permitia melhor observar os contornos daquele corpo
e se admirou ao notar que boa parte das pernas da guerreira ficava a mostra.
Tudo aquilo era muito estranho aos olhos daquela que até bem pouco tempo era
uma simples camponesa e agora escrava da conquistadora. As areias do tempo
corriam e Gabrielle permanecia ali observando com quase palpável devoção às
atividades desenvolvidas abaixo de seus olhos. Após a revista da tropa, Xena se
pôs a treinar com os mais fortes homens de seu exército e, para fascínio da
pequena loira, Xena era imbatível, tinha perdido a conta de quantos ela havia
derrubado. Os saltos mortais e o tilintar das espadas em choque petrificavam
Gabrielle que balançava as mãos, dava pulinhos e praticamente narrava às lutas
que sorrateiramente espiava, até que um momento suas esmeraldas se encontraram com
os cálidos olhos azuis de Xena.
Xena
sorri largamente ao ver que estava sendo observada, e se dá conta que aquilo faz
bem a seu ego e saltando três mortais para trás e depois avançando deferindo
golpes nas pernas e peito de seu adversário o faz cair de costas ao chão.
Bradando em alto e bom som a imperatriz olha no rosto de seus soldados
admirados com sua desenvoltura em batalha e diz:
-
Mais algum de vocês tem a ousadia de me desafiar?
O
que se houve é um vasto silêncio.
-
Não é possível que no exército da conquistadora não tenha um homem capaz de tal
feito pra me desafiar e vencer.
-
Minha senhora, é por isso que quem nos lidera sois vós. - dizendo isso Nereu
aparece à frente do grupo de homens que a cercava a cumprimentando.
-
Foi bom brincar com vocês, mas chega por hoje, treinem entre si e melhorem. Quem
sabe um dia consigam.
Afastando-se
e puxando consigo o chefe de sua guarda pessoal, Xena diz:
-
Meu velho amigo, estou a voltas de uma batalha nesse castelo e preciso que
mande meu melhor emissário a terras fora de Corinto, preciso investigar a vida
daquela escrava loira que veio com Mezentius.
-
Xena, posso saber que diabos você quer saber e por quê? Uma vez que estamos
prestes a desembalar nossas espadas em campo?
-
O dia que eu tiver que dar explicações aos meus Generais eu lhes entrego o
trono. Ouça, mande um de nossos homens a Potedia e me tragam todo tipo de
informação possível, e não preciso mencionar que isso é de extremo sigilo.
-
Será feito como deseja.
-
Sei também que dentro do meu exército estão os que me traem e hoje mesmo irei
ter a confirmação disso, espalhe entre a tropa que sairei hoje à noite rumo ao
norte para uma nova ronda nos exércitos de Batios e prepare alguns falcões e os
coloque na floresta a 10 léguas ao norte onde me juntarei a eles, tenho certeza
que não sairei só sem ser surpreendida. O traidor se entregará com uma
emboscada.
Batendo
no peito e entendendo o que a imperatriz pretendia, se pôs a marchar e fazer aquilo
que ouvira de sua soberana. Iria colocar os melhores homens a disposição,
pois sabia o risco que corria a senhora do mundo.
O
plano da conquistadora era simples, se existisse de fato um traidor entre seus
generais ficaria claro e restaria apurar somente quem era, mesmo que fosse
preciso matar um a um. Xena entrou pelo castelo e deu de cara com Gabrielle no
corredor, a menina descia em direção à cozinha, e a conquistadora a repreendeu
com olhar dizendo:
-
Venha comigo agora.
A
jovem escrava gelou diante da expressão de sua senhora e virou os calcanhares
quase correndo atrás de Xena corredor afora.
Ao
entrar em seus aposentos, Xena foi soltando a bainha de sua espada e a
depositou sobre um rústico baú que mantinha próximo a lareira do quarto. Soltou
também a proteção que usava nos punhos quando notou que Gabrielle finalmente
alcançara o mesmo ambiente, e virando-se ordena que a ajudasse a soltar a
parte de cima da armadura. As pequenas mãos se puseram a trabalhar soltando as
fivelas que prendiam as vestes de couro e foi impossível não tocar e sentir o
calor da pela abaixo de seus dedos. Uma estranha sensação tomou conta da loira,
estar perto daquela mulher lhe agradava cada minuto mais, e mal podia ela
imaginar que mexia também com a alta figura que estava a sua frente. Ao soltar
as amarras, Xena se põe a tirar toda roupa que a cobria, estava suada pelo
exercício que fizera, e Gabrielle estava recolhendo as proteções de punho
retiradas e juntava com as partes que havia tirado da armadura. Quando se virou
deu de cara com Xena completamente nua em sua frente.
Percebendo
a escrava completamente desconcertada, a conquistadora se põe a rir diante do
espanto, mas pode notar que a escrava olhava cada centímetro do seu corpo nu, o
pensamento de que era admirada pela pequena mexeu com o fogo da guerreira que
inclusive andava sem interesse em sua escrava de corpo. Havia mexido de tal
forma que naquele fragmento de tempo sentiu umedecer o meio de suas pernas. “É
só o que faltava, ter desejos por essa escrava, estou ficando cada vez mais
boba”.
-
Gabrielle me ajude com isto, disse apontando o ombro enquanto se encaminhava a
sala de banhos.
A
jovem menina andava atrás da imperatriz fitando de perto as longas pernas bem
torneadas, não deixando de olhar também aquelas costas definidas. Embora não
soubesse distinguir o que sentia, Gabrielle sabia que era boa a sensação do
choque que cortava seu ventre. Xena Mergulha na tina de mármore enorme e,
segurando as bordas, fica apoiada aguardando que seu ferimento fosse
limpo. Inconscientemente Xena sabia que aquilo não passava de um arranhão e
estava usando como pretexto para ser tocada pela jovem virgem. Quebrando o silêncio
que se fazia sempre que era tocada pela menina, Xena resolve indaga-la:
-
Então Gabrielle, é apreciadora dos campos de batalhas?
-
Senhora, perdoe-me, sei que não tenho direito de ficar a voltas olhando suas
atividades, mas é que, hum... Eu achei bonita a forma com a qual transcorriam
as atividades lá fora, é que eu nunca tinha visto nada parecido.
-
Gostou do que viu?
-
Não sei se o que vi é o certo, mas é incrível.
-
Certo ou errado eu decido, Gabrielle. Lave minhas costas.
Xena
se entrega ao prazer que sentia no toque daquela escrava, e estava a ponto de
enlouquecer pelo fato de não entender o porquê aquilo lhe fazia tão bem. Podia
ter em sua cama quem quisesse e definitivamente Melina, sua escrava de corpo,
nunca teve um toque tão gostoso. Ficando ali mergulhada na água embaixo daquele
toque não teve nenhuma pressa de sair.
Quando se pôs fora daquela tina Xena ardia em
brasa, já não podia negar para si que estava louca de vontade de ter a loira na
sua cama. Acabara de secar seu corpo, mas o meio de suas pernas estava banhado
pelo seu desejo. Vestiu-se rapidamente com a ajuda de Gabrielle, e em seguida
mandou a menina buscar sua refeição. Aquilo nada mais era que uma saída rápida
que encontrou pra não jogar a escrava em um canto e toma-la, e sabia que
em outro tempo já teria o feito.
Gabrielle
retornou a antecâmara onde a imperatriz fazia suas refeições, e se pôs a
servi-la como havia sido orientada por Mira. Ao lhe entregar a pesada taça de
prata preenchida por vinho... O toque... Seus olhos se encontraram. Em pé ao
lado de sua senhora a escrava permanecia impassível e Xena perdida naquela
situação resolve lhe falar:
-
Gabrielle, sente-se e coma.
-
Mas senhora, eu sou uma escrava, não devo me sentar.
-
E é justamente por ser MINHA escrava que vai se sentar, isso é uma ordem.
Gabrielle
se senta e pouco a pouco se serve, sendo acompanhada atentamente pelos olhos da
imperatriz que bebia a cada movimento.
-
Como aprendeu fazer tudo aquilo que mostrou lá fora ?
Xena
riu da pergunta.
-
Como acha que me tornei senhora do mundo? A vida me fez assim, a vida me
ensinou a ser o que eu sou.
-
E o que você é?
Xena
se assusta diante da pergunta.
-
Eu sou um monstro, uma assassina fria que dita quem vive e quem morre.
-
Eu não conheço essa senhora.
-
Está sentada bem a sua frente, Gabrielle.
-
Não, a senhora que você descreveu nunca salvaria uma simples escrava da
violência, e tão pouco procuraria cuidados para que essa mesma escrava não
morresse doente.
Xena
estava sem reação, aquilo poucas vezes na vida acontecera. Perdida no que
ouvira e mais perdida ainda na sua escrava tudo que consegue dizer é:
-
Eu sou o que sou, não se pode mudar isso.
-
Sempre se pode mudar, você é dona do mundo e é incapaz de ser dona do seu
destino?
Olhos
azuis devoram aquelas esmeraldas. Não eram mais frios, ardiam em brasa.